quinta-feira, março 14

Teorema


Descubro-te nesse falso descanso de fémea. Preparo-te as dimensões e os vértices como se pretendesse domesticar a tua geometria. Do sol de fim de dia faço transfusões. E desse sangue iluminado, faço-te beber sequiosos arrepios. As vozes rugirão em assimetria, enquanto uma doçura for ao mesmo tempo rasgo e dor. Mantenho-te despida pelo vestido que te enquadra. E os saltos serão as agulhas onde me injecto.

domingo, outubro 3

Santifico-me


Viajar-te em velocidade de estearina, rogando-me pausas onde me estendo, como quem procura santuário. Inundo-me de chuva, escondendo lágrimas. Perigo-me à medida que estico os dedos e descubro os teus anéis. Guardo as tuas mudanças de pele pela mesma razão que venero as catedrais. Nunca beijei imagens de ouro ou rubis. Nunca senti frio deitado sobre urnas de mármore. Não te conheço milagres. Apenas creio em ti.

Espinhos


Ser de ti, é a pergunta ventania com que insistes pintar-me da tua cor. E por saberes a resposta, as propostas são meras vítimas do teu calor. Experimentei um dos teus cigarros, e para além de me sentir um pouco feminino, o meu sabor não me soube a ti. Tenho guardado a que sabes. E mergulho todas as vezes que as ondas me parecem a tua pele. Cansado de voltar à areia, e não descansar a cabeça na tua coxa.

terça-feira, setembro 28

Dezanove


São longas as estradas por onde te vou levar. Não têm janelas nem sentidos proibidos. Juntos, traçamos as bermas onde nos deitamos em tufos de erva. O bastante para sentir a circulação de um sangue de guloseima. Sabemos os nossos instintos como magnetismos. Sabemo-nos animais em cio transparente. Sei a tua pele como esse traço contínuo que insisto num dogma. Sabes os meus olhos semicerrados, imaginando-te suada. Os nossos cabelos vigiam o vento. As mãos, sugerem-se descobertas. O dia será continuado de noite.

quarta-feira, setembro 22

Profundamente


Conheço o domínio que tens em mente. Existem portões pesados, pintados de negro, onde se encerram as dúvidas inaladas por esses desvios. Conheço as perspectivas de tais emoções, cortar-me fundo nas tuas arestas. Divido-te ao meio procurando apetites ocultos. Duvido conseguir evitar tais perigos. Talvez por me sentir em perigo sem eles. talvez por acreditar. Certeza de quem se alimenta do proibido.

terça-feira, setembro 21

Sem fôlego


Seduzido por esse crime, acompanho-te no exacto estado em que a fome significa todo um jogo, decidido em regras que se escrevem ao longo da imprevisibilidade. Desconheço os teus hábeis gestos. Não consigo entender as estratégias. Ou o lugar onde me estenderás. Sei apenas o que fazer com a espuma do capuccino. Traçar-te uma circunferência e mergulhar, ignorando geometrias.

segunda-feira, setembro 20

Agora


Dá-me o tempo que decidiste consumir. Entrega-me esses minutos e deixa-me criar horas de pétalas. Oferece-me o tempo da tua nudez. Uma que seja crua e vazia de cor. Consente os gestos e deixa-me prostrado, ritual incoerente onde serás o altar de um desvario encenado. No teatro do meu capricho, o esmero é ímpeto e tem o teu nome.